Time Traveller

     

sábado, agosto 09, 2003

 
Leia as novidades no Time Traveller 2.0
Atualize seu link. Faça uma visita.


segunda-feira, agosto 04, 2003

 
Lendas de Botucatu: Minha vida de cachorro
Então um dia um belo vira-lata cinza, meio poodle meio sabe lá o que, com um andar digno de um cão de cinema, todo amarrotado e magrelo mete as fuças entre o portão da república. Eu e o Baguá, que somos de casa mas não moramos lá, estamos sentados no jardim aquecendo os pés no resto de sol que ilumina aquele fim de julho. Olha que coisa mais engraçada, deve estar morto de fome. Damos um prato de comida, afagamos a cabeça do bicho, o colocamos para fora e entramos. Quando vamos embora mais tarde adivinha quem tá dormindo na soleira da porta? Quem deixou esse bicho entrar? E foi assim, de um dia para o outro, que o então batizado Fluff passou a ser um membro honorário da república.
Quando o Bart voltou das férias foi um pega pra capa. Depois de 3 dias amarrados a uns 50 centímetros de distância um do outro parece que eles começaram a se entender, mas até o Bartolomeu ficava inconformado como o desgraçado ia e vinha a hora que bem entendia.
Até que certo dia... gritos desesperados, lá estava ele, pego pela barriga literalmente, preso a um metro do chão entre duas hastes estreitas do portão de ferro. Fora revelada sua passagem secreta, e por mais esperto que ele fosse, não percebera o quanto engordara desde que o acolhemos e continuava tentando passar pela fresta. Safado!
Depois de alguns meses, Fluff já era um cãozinho gordinho, livre dos bernes e carrapatos que o habitavam, tosado, alias descobrimos que ele era preto com fios brancos (talvez grisalhos) e não cinza. E eu já tinha me acostumado a ir embora a pé com ele me acompanhando. Algumas vezes dormia na garagem do meu prédio, outro portão que não o dominaria, e saia por ai de manhã para suas voltinhas e só aparecia novamente no fim da tarde com cara de quem esteve na farra. Outras voltava para a república, mas não sem antes dar uma passadinha em seus points prediletos. Onde íamos sempre perguntavam se o cão era nosso, ele ia comer restos de hambúrguer no trailer perto da cabine telefônica, freqüentava o Ciabata no final da noite onde ganhava um ou outro pedaço de filé e o pet shop vizinho do qual geralmente saia carregando alegremente algum petisco.
Um cão vira-lata é mais um colega do que um bicho de estimação. Você o encontra na rua e oferece uma carona, se ele estiver indo pro mesmo lugar é só abrir a porta e ele pula para dentro, senta-se no banco do passageiro educadamente, ou então você topa com ele na rua, grita seu nome, ele lhe sorri alegremente, atravessa a rua e faz questão da sua companhia.
Alguns meses depois aconteceu o inevitável, a república mudou de endereço. Uma rua agradável e silenciosa, a uns 500 metros do antigo endereço e a uns 100m do meu ap, era uma casa longa com uma bela árvore na frente, uma varanda, churrasqueira, estacionamento para 3 ou 4 carros e um alto e extenso muro de concreto cinza no qual se encontrava um portão de aço de 2 metros de altura com barras firmes e fendas estreitas, um obstáculo intransponível para qualquer cão com menos de 1,80.
Os olhos de Fluff brilharam de amargura através das barras, o focinho encostado no chão, aguardando ansiosamente para tentar escapar pelas pernas do primeiro descuidado que entrasse. Não raramente, quando escapava, ele voltava da esbornea no meio da madrugada e como não tinha a chave, fazia um alarido até que alguém lhe abrisse a porta.
Certo dia Fluff saiu, não voltou. Ninguém mais o viu por ai. Terá sido pego pela carrocinha? As coleiras que colocávamos sempre sumiam, os portões... Terá escolhido as ruas a um jantar seguro e um afago na cabeça? Será que a liberdade deixa cortes tão forte na alma que a escolhemos no lugar de todas as certezas? É que a maioria de nós nunca foi cão de rua pois uma vez cão de rua, para sempre cão de rua.



sexta-feira, agosto 01, 2003

 


Cinesofia: "Extemínio"

Depois de 3 dias meditando a respeito, finalmente consegui tirar algo de bom do filme Extermínio; a trilha sonora, baixada inteirinha do kazaa. Não que o filme seja ruim, pelo contrário. Ele tem pretensões de clássico cult, uma mistura de "A volta dos mortos vivos" com "Blecaute" e primorosamente condecorados com canções que vão do canto gregoriano, passando por influencias celta e culminando no eletrônico.
Então por que uma ficção cientifica batuta como esta me deixou tão entorpecida? O cinema estava terrivelmente frio, a sala cheia e eu sozinha, tão sozinha quanto o personagem que acorda numa Londres deserta antes de ser atacado por "infectados".
"Jesus" você pode exclamar, "por que diabos você gostou deste treco?". Eu acho que nunca me senti tão sozinha durante um filme como me senti nestes porque só ficava pensando que logo vou morrer e você também e todo mundo. Será que Danny Boyle é um brilhante diretor existencialista que consegue unir zumbis e filosofia ou terá sido apenas a música? Despertou algo lá da infância, quando eu era pequena eu me escondia debaixo do banco do carro quando passávamos na frente do cemitério e antes de dormir nunca dizia tchau para os meus pais e sim até amanhã. Quando fico assim eu só consigo pensar em desistir de tudo; olho para minhas coisas e sinto um vazio, olho para minha vida e não quero quase nada dela, mas por incrível que pareça, eu quero apenas a vida. Sem contrato social. Quero alguém com a mão quente que esquente meus dedos frios, quero correr por uma estrada de terra que corte o campo, quero o açoite do vento frio no rosto, quero esquecer que existe amanhã.

"Ser espírito é dominar o escoamento do tempo, ter corpo é ter um presente."
Bergson



domingo, julho 20, 2003

 
Pós-aniversário - updated

A cinco meses atrás, após ter ido a uma festa de uma sexagenária, fiz a seguinte pergunta ao ouvir o discurso de sua melhor amiga a 40 anos "Quantas pessoas tem o privilegio de ter um amigo a tanto tempo?". Hoje eu fiz 26, faltam apenas mais 34. Será que vai dar?
Fazemos aniversário, mas muito pouco mudará de um dia para o outro. É o acervo dos dias que contem nossa transformação. O que me toca mesmo nestas datas é que temos uma pequena brecha para dizer para o outro o quanto ele nos é importante na nossa vida. Tem aquele indivíduo que mesmo à distância da um jeitinho, manda um e-mail, um torpedo, uma carta; pode ser um poema de um grande autor, pode ser um parabéns, pode ser um pacote básico de boas vibrações ou uma mensagem nada usual, cada um tem sua cara, cada um é único. Ou um telefonema que certas vezes lhe saúda aos gritos, outras timidamente. Tem aquele sorriso que te pega desprevenido na soleira da porta de casa, ou aquele abraço forte e caloroso que pega desprevenido e quase espreme as lágrimas pra fora dos olhos. E tem também o que chega logo estendendo o pacotão para depois perguntar do rango, e o do pacotinho tímido que contem algo preciosamente escolhido. E o afobado que começa a dar parabéns três dias antes, e o desavisado que lhe comprimento com cara de espanto. E o que está todo dia ao seu lado e faz questão de estar mais um, e o que esta longe mas faz de tudo para estar perto.
Enfim, desisti de sonhar com os eternos velhos amigos, aqueles que carrego em minha história. Quem disse que eu preciso fazer 60 anos para saber quanto valem os meus amigos? Aos 26 eu percebi, é preciso ama-los desde já, quero aqueles que compartilham uma história comigo.
Eu agradeço a aqueles que tem feito de mim nos últimos dias, meses ou anos, uma pessoa tão rica, que a vida é feita de maus e bons momentos mas, felizmente ou infelizmente, nada que o tempo não possa resolver...






terça-feira, julho 15, 2003

 
Totem: As Vacas



Por que não as vacas? Por que elas viraram sinônimo de ofensa? Nenhuma vaca que conheci me fizera mal, exceto uma vez de tanto comer bifes...
A vaca é um bicho de paciência monumental, fica lá, paradona no pasto, comendo, espantando moscas, esperando. Alguém consegue imaginar como eram as vacas antes dos homens? Da para imagina-las correndo em bandos, procurando comida, fugindo de predadores? Não, tantos milhares de anos domesticadas tiraram das vacas qualquer traço de animal selvagem, elas apenas esperam sem saber o que. Elas vivem no ritmo alheio, de destino definido por alguns poucos homens, engordam, protegidas de estranhos por cercas de arame farpado. Quando na fila do bate, elas tremem, suspeitam de algo, mas sua índole domestica é mais forte, ela continua caminhando, tensa, nada que um bom amaciente não venha a resolver no futuro.
Talvez tanto se fale das vacas não pelo sexo rápido, pela copula sem prazer. Está no olhar delas, no ritmo delas... Talvez porque mais pessoas sejam vacas do que se imaginam. E, vida de gado...
Lembro quando tirei essa foto ai em cima; estava sozinha no setor de eqüinos do Lajeado e me aproximei do redondel onde 30 animais com cerca de 400 quilos dividiam um espaço de não mais que 10 metros quadrados. Ela se aproximou de mim, passou o focinho na minha mão vazia e afastou-se decepcionada, sem que em momento algum seu olhar ultrapassasse a cerca do redondel.



domingo, julho 13, 2003

 
7 dias

Inspirada pelo meu amigo Thiago e por uma velha idéia do wish list referente ao Amaral, e ainda pelo desespero de que só faltam 7 dias e eu ainda não consegui realizar nenhuma das minhas metas para os 25 e os 26 já estão chegando... Sete coisas que eu nunca ganhei até hoje:


7o lugar

Engraçado que eu que gosto de Jazz nunca ganhei cd algum de jazz, apesar de já ter distribuído vários. Isso me preocupa. Um Cd do Miles Davis já seria de bom tamanho para que eu me sinta mais segura.

6o lugar

O DVD do filme "Ondas do destino" que nunca consegui ver. É o meu lado consumista falando, mas é um filme independente, então ta valendo!

5o lugar

Um jantar, um almoço, sei lá... Não importa a hora ou o prato, mas tem que ser feito pela pessoa. Tirando minha mãe ninguem nunca cozinhou algo especialmente para mim. Isso me deprime, eu mesma já cozinhei para algumas pessoas e sei a dedicação que tal ato requer. Cozinhar para alguém é uma das mais respeitáveis demonstrações de afeto.

4o lugar

Um livro como "Nas invisíveis asas da poesia" do John Keats. Bom, começa pela sensibilidade de alguém achar um livro destes, depois lembrar que o Keats morreu com 26 anos (putz, agora me senti menos realizada ainda!) e que tal livro combinaria comigo.

3o lugar

Um convite para um fim de semana em Brotas de alguém que tenha tanta obsessão por aquele lugar quanto eu. Não sei se conheço esta pessoa, mas no meio de tanta gente deve haver alguém com quem compartilhar o passo lento de Brotas.

2o lugar

Uma viagem para Escócia. O problema é que meio que já ganhei uma vez, foram 300 dólares mas dava para pagar o trem e a hospedagem pois eu já estaria em Londres, acontece que fiz uma besteira e nunca cheguei se quer a caminho das Highlands. Só me sobrou a gaita de fole soprando no vale verde da minha imaginação.

1o lugar

Um beijo perfeito.
"It will be the kiss by which all others in your life will be judged...and found wanting."


sexta-feira, julho 11, 2003

 
Tudo que você sempre quis saber mas nunca teve coragem de perguntar: Portas de banheiro
Engraçado que naqueles botecos de esquina, em lugares que só se vende coxinha requentada, pinga, cerveja, salame e eventualmente azeitonas enquanto meia dúzia de gatos pingados assistem a um jogo de futebol da segunda divisão numa tv cheia de chuvisco, ou na melhor das hipóteses, tentam em vão acertar a bolinha numa mesa de sinuca, se você olhar lá no canto enxergará pintado acima da porta do banheiro feminino 'Damas'. Nada contra, mas que é difícil imaginar uma dama entrando num lugar destes, exceto em caso de extrema emergência, isso é difícil. O único tipo de "dama" que consigo enxergar freqüentando um lugar assim é uma mulher já passada num decadente vestido longo um ou dois números menores que o ideal com uma batom vermelho vivo nos lábios caídos. Algo meio que saído da Ópera do Malandro...
Já os banheiros de "classe" também possuem a sua inspiração nas décadas passadas e ainda mantém aquele velho sinal: banheiro masculino, cartola e bengala; feminino, sombrinha de renda e luvinhas. Adequadíssimo.É o próprio retrato da nossa elegante e galante geração... Provavelmente o dono do banheiro imagina que qualquer mulher, quando entra num local destes, se sinto a própria donzela da era vitoriana com um gentleman de cartola me esperando do lado de fora enquanto dá o famoso jeitinho de fazer xixi sem encostar no acento.
Já nos lugares mais descolados temos aqueles símbolos: uma bolinha com um senhora flecha apontando para cima, os garotos, e um bolinha com uma tímida cruzinha pendurada, as meninas. Como as coisas andam cada vez mais confusa ultimamente já há estabelecimentos com um terceiro banheiro, com uma bolinha, uma flechinha e uma cruzinha abrigando o mesmo espaço.
Já pizzarias rodízios do interior, churrascarias do ABC, lugares como o extinto Grupo Sergio (pra quem tem mais de 25 e mora na zl) sempre apelaram para criatividade, ou para o desespero, e colam na porta algo trágico como uma Margarida e um Pato Donald, uma Mônica e um Cebolinha ou o tipo de coisas que qualquer um dos 10000 freqüentadores diários seja capaz de entender.
E essa história de porta de banheiro poderia virar uma tese de mestrado em ciências humanas. Então, quando você escolher que tipo de lugar deseja ir, na dúvida, pergunte sobre o banheiro.




terça-feira, julho 08, 2003

 
A loucura nossa de cada dia: Hábitos alimentares.



Feijão coado, pizza só de mussarela, intolerância a alimentos da cor verde, rejeição absoluta a frutas, frutas picadinhas, pão de cachorro-quente com banana, panetone com maionese, resistência a frango, "vegetarianos" que só não comem carne de vaca, x-salada sem alface, feijão com doce de abóbora e a lista continua infinitamente por ai. E o pior de tudo é que as pessoas que conheci e tem estes hábitos alimentares já são bem grandinhas...
Em geral os culpados são os pais que em algum momento da vida destes tristes indivíduos se propuseram, por exemplo, a coar o feijão para seus filhos que sofriam de frescurite. Ou talvez, como é meu caso com o yogurte de maçã, uma associação a algum desconforto alimentar.
Pior que as frescurites são aquelas pessoas que nunca sabem o que pedir num restaurante; "Onde você quer comer?", "não sei, onde VOCÊ quer comer?" e depois ficam perguntando o que você vai pedir ou então aguardam com cara de paisagem para então decidirem que querem o mesmo que você sem ao menos saber direito o que estão pedindo, quando a comida chega "mas eu odeio mariscos!", "Isso aqui está horrível, como alguém pode gostar disso?".
Já almoçar com meu pai e minha irmã, não importa onde você vá, eles sempre sabem o que querem comer, eles dão um jeito, "é impossível que aqui não sirva bife com arroz e batata frita" e em ultimo caso há o famoso espaguete a bolonhesa. Nunca entendi porque alguém sai de casa para comer arroz branco com bife e umas batatas murchas. Talvez seja por isso que sempre que como fora tenho a compulsão de pedir o prato mais estranho do lugar, alem do mais, me encanta a cara de horror da minha irmã ao ver-me enfiar umas perninhas de lula ou uma tenra fatia de coelho goela abaixo. Gosto do desafio, logo serei a mulher que comeu de tudo.


segunda-feira, julho 07, 2003

 
Putz, esse post é em homenagem ao ser incognito que entrou aqui semana passada procurando no Cadê? por "Lendas de Botucatu"! Provavelmente este ser não volte pois se deparou com um blog que falava sobre tigres, mas nunca se sabe. E também ao Devasso que merecia um post só para ele, ou talvez um livro só para ele. Figura...



Lendas de Botucatu: Morro do Peru

Botucatu, como toda boa cidade do interior, é uma cidade cheia de lendas. Não lendas como as ditas lendas urbanas, onde um cara com um machado se esconde no banco traseiro do seu carro, as lendas do interior contem um certo charme como o Saci (aguardem), o Lobisomem, o Boto e outras mais regionais...
Essa foto aqui em cima é coisa do Ney Takashi Furukita, mais conhecido como Devasso. Veterano da Zoo, Devasso conhece Botucatu como nenhum forasteiro conhece. O Morro do Peru é visível da estrada, mas nada comparado ao "mirante" descoberto pelo Devasso. Depois de parar o carro numa estrada de areia deserta, subir um morro escorregadio na escuridão com a Kota reclamando que íamos ser assassinados e finalmente desafiar os carrapatos, eu o vi. Iluminado pelo lua, sua sombra se levantando no mais absoluto silêncio, enquanto Devasso fazia sinais com a lanterna, Deus sabe lá para quem. Foi a única vez que ouvi a lenda do Morro do Peru, mas até hoje me sinto perdida naquele momento.
O Devasso, que já havia acampado no morro, prometeu que um dia nos levaria conhece-lo pessoalmente, ainda que o tempo tenha mudado nosso rumo, de outros mirantes a Bauru as Três Pedras a separação. Porem, provavelmente sem o Devasso , não haveria ainda tantas lendas de Botucatu para serem contadas. São os contadores de lendas que passam nossa história para frente, mas não é qualquer um que sabe viver uma lenda.
Ah! A lenda do Morro do Peru?
Se você acampar no morro na noite de páscoa pode ser que dê de cara com um peru dourado que o levará até o ouro perdido pelos Jesuítas naquela região. Nada comparada a lenda do culto dos adoradores de Lúcifer nas Três Pedras. Mas por algum motivo, que talvez vá muito além da geografia, o morro é classificado como Morro Testemunho da Cuesta de Botucatu. Bom, não sei ao certo quanto ao testemunho ou ao Peru dourado, mas eu, com certeza, voltei de lá uma pessoa mais rica.




sábado, julho 05, 2003

 


Totens: Os Cães

Sinceramente, alguém sabe o que é um "sorriso canino"?
Eu sempre fui uma pessoa mais cão. Ou você é uma pessoa cão ou uma pessoa gato. Não dá para jogar nos dois times. É uma questão de princípios. Cães não caminham em cima de muros no meio da noite nem não lançam olhares soturnos de um canto escuro. O cão é fiel por convivência. Descansa a sua sombra, se acolhe ao seu lado, não se deixa excluir, se faz presente. Mas alguns cães, não pertencem a ninguém, pertencem a todos, pertencem ao mundo. Hoje você abre a porta da sua casa, ele entra, disponível para te amar, a sua casa sempre será dele. Vocês passeiam sem coleira nem guia, caminham juntos sem destino certo, são capazes de sentar na grama por horas lado a lado, contemplando a passagem, em um silêncio confortável. Você sabe que amanhã é um outro dia e este cão não lamentará por você, mas carregá você por onde for sem mesmo estar consciente disso. Um dia quem sabe, se os caminhos cruzarem... Você sempre carregará na memória aquele sorriso... sorriso canino.



terça-feira, julho 01, 2003

 
Wil, como eu havia prometido, o mistério dos tigres.


Totem: Os Tigres

O poeta se encontra perdido nas dunas de areia, como Borges que agora anda a espreitar tigres. Das montanhas geladas da Sibéria as quentes Planícies Indianas, o Tigre caça solitário, caminha a passos leves, articulando pele e osso, força e flexibilidade. É impossível não sentir a presença do Tigre expandir-se até seus ombros. Não olhe para trás. Haverá alguma coisa ali? Talvez seja melhor não descobrir.
O Tigre segue, desprezando o que não for caça, os olhos sempre voltados para frente, o corpo curvado, o coração protegido no peito. Eis seu objetivo: sobreviver.
Ele desliza macio, inconsciente de ser um felino, alheio a sua própria sensualidade, preparado para fazer sangrar, para rasgar a carne com os dentes, para segurar a presa pela unha, o Tigre, sozinho, para se satisfazer.
Buscará o outro apenas para calar o instinto, tratará gentilmente os seus para que aprendam a fazer-se respeitar, cuidará enquanto não representarem perigo. Segue que a terra é sua, cada gota de sangue que verter sobre ela será sua recompensa, mas não atacará o corpo do poeta, este desejo não há de se realizar. Não com aquele que ama os tigres, já cumpre sua sentença de ter apenas a alma devorada.



domingo, junho 29, 2003

 
Totem:

Este post saiu de uma conversa que tive com o Wilton, "Que morra comigo o mistério que está escrito nos tigres.". Gosto das causas e efeitos Wil mas será tão simples assim? O Wil não é um cara místico, eu também não, embora acho que busquemos experiências extras-qualquer coisa, cada um a sua forma.
Não é de hoje a crença de que cada um de nós está ligado a um animal. Para parte dos índios norte-americanos este totem animal é hereditário, para outras tribos cada indivíduo constrói um laço com um "espírito" animal diferente. Não importa de onde venha, esta representação homem/animal é certamente mais vasta e antiga do que posso imaginar; deuses egípcios, xamanismo, lendas, totens, pets... Talvez de fato carreguemos um animal dentro de nós, resquícios de nosso passado primitivo, nosso lado instintivo ou mesmo talvez nosso alter ego.
A tempos que eu queria escrever sobre algo assim. Os animais que colocarei aqui no site de agora em diante são leituras minha, nada de mistico ou científico. Aguardem os próximos conforme for surgindo oportunidade.

E Wil, o mistério dos tigres é alcançável dentro de cada um de nós, mas seria possível eu faze-lo entender? É por isso Borges diz "Por isto não pronuncio a fórmula, por isso deixo que os dias me esqueçam, deitado na escuridão." ou é por que ele descobre ser muito pequeno? Ou seria os dois?


Eu sempre nutri uma certa simpatia pelos equinos, mas depois da faculdade acho que passei a venera-los. Se algum animal habita em mim, é meu alter ego ou seja lá o que for, deve ser este.



Os cavalos:
Olhando para eles, grandes, rápidos, musculosos até esquecemos que ele não é um predador e sim uma presa. Por isso os equinos são curiosos e desconfiados, exímios conhecedores de caráter. Não que todos sejam ótimos camaradas, mas todos vão querer ter certeza de com quem estão lidando. E é preciso saber que um cavalo nunca esquece.
Quem olha aquele bicho enorme e majestoso no pasto não imagina que o cavalo é um bicho frágil que vive sobre estresse constante. Cada parte do seu corpo é uma extensão do mundo. Ele responde com os olhos, olha com os ouvidos e escuta com toda a sua pele, ele está eternamente pronto para se mandar dali porque é da suas habilidades de observar e correr que depende sua vida.
O instinto dos equinos tambem é forte o suficiente para eles saberem que a vida em bando é essencial para sobrevivência. Estabelecem laços e hierarquias entre eles, e o fazem conosco. Um cavalo pode ocupar uma posição mais baixa entre alguns animais mas ser líder entre outros. Nós temos que decidir se seremos o seu líder ou se deixamos que ele nos lidere, mas liderança consiste em confiança. Em quem vamos confiar? Tornar parte de nossa família? Quando você monta põe sua vida nas mãos do animal e o animal põe a dele nas suas mãos.



quinta-feira, junho 26, 2003

 
...ainda sobre correspondências:

Já que eu falei em correspondência... acho que com um pouco de esforço um e-mail pode ter um certo charme, não vou ser injusta, apesar de nada mais descartável e impessoal. Eu bem que me esforço, mas um e-mail destes sem resposta é ainda mais triste que uma carta sem resposta simplesmente pelo fato de a coisa ser tão fácil... ou será que não é?
Só de raiva (e falta de tempo) vou postar um e-mail pessoal que enviei para uma pessoa e não tive resposta. (Será assim tão fácil responder?)

---E-mail da Giu para alguem---

"Quantas linhas ou quantas paginas tem a história perfeita? De entendimento perfeito? Acho que essa história não teria graça. O que aprendemos* guardamos por toda vida, o que nos ensinam**, nem sempre faz sentido. De qualquer forma ainda aguardo por ela, mas que seja construída por força semelhante a insensatez porem que apenas requeira um pequeno dispêndio de energia por parte do leitor.
Infelizmente hoje ninguém mais tem disposição pra isso não?
Fernando Sabino e Clarice Lispector trocaram cartas por quase 20 anos***. Fica fácil falar assim, não? Dois matutos conversando. Tem momentos que gostaria de entrar no meio da conversa porque acho que mais ninguém ia entender alem deles. Não é verdade, tem gente que entende, mas você não esta entendendo nada não?
Então vou escrever um pedaço do livro pra você:

Carta do Fernando p/ Clarice 1946
'O que você deve ter não é um problema, mas muitos problemas, que podem ser horríveis, mas são muitos, portanto não são você, apenas te prendem (...) Creio muito em você, tanto quanto às vezes creio em mim
mesmo. De repente descreio violentamente: tenho medo de falharmos.'


Será que um deles encontrou?
Bom, ele sabe como somos incrivelmente pequenos, não? E nós, sabemos?
Beijos
Giu

Obs:
*Palavra derivada de "apreender": apropriar-se (Dic. Aurélio)
**Transmitir conhecimento (Dic. Aurélio)
***Publicadas"



terça-feira, junho 24, 2003

 
Correspondência:

Estou emocionada, sempre fico emocionada nestas ocasiões, hoje recebi uma carta. E não era conta para pagar, não era propaganda de pizzaria, nem multa. Era um envelope branco endereçado a mim, com meu nome escrito a caneta, selo, estampa e tudo mais. Não precisei ler o remetente porque reconheci a letra e também provavelmente porque a Novs é a única pessoa que eu conheço que ainda escreve cartas. Entrei em casa com o papel estalando na mão, coloquei-a no escritório, tomei banho, preparei um lanche e só então sentei para ler, rasguei com cuidado o canto do envelope e desdobrei três folhas escritas a mão, li as novidades, não tão novas, satisfeita por segura-las em minhas mãos. Tive que seguir todo um ritual para fazer jus a carta. Não que não nos falemos por e-mail ou telefonemas esporádicos, mas uma carta é uma carta, um artesanato. A carta trás nas linhas o humor do autor, as condições no papel, percorre um longo caminho, pode ser lida, relida, queimada, amassada, guardada de baixo do travesseiro, ser, muitos anos depois, encontrada.
Em quartos escuros, iluminados apenas pela mingua luz de velas, olhos atentos as palavras, talvez letras desenhadas cuidadosamente a bico de pena... durante séculos cartas de negócios, de saudades, de amor, de mágoa, atravessavam o mundo para fazer história, mesmo numa época em que uma carta levaria seis meses para ir da Inglaterra a China, elas carregavam o coração dos homens, que aguardavam ansiosos a chegada a seus destinos e mais ansiosos ainda esperavam por respostas.
Ter amigos distantes não garante cartas. Não me faltam pessoas que amo mundo afora, seja Inglaterra ou Campinas, seja Missouri ou Tatuapé; numa era onde o mundo parece tão pequeno a tecnologia apenas ampliou o espaço entre nós.
Tenho uma dívida a pagar, e que pagarei com o maior prazer, se não pude ir até Concórdia é uma parte de mim que vai.



segunda-feira, junho 23, 2003

 
Constatações pós-feriado

To começando a desconfiar que eu odeio feriado.
Quando era jovem (dramático, né?) eu não fazia planos nenhum pro feriado ou mesmo férias e passava o dia inteiro batendo pernas por ai. Agora, já uma pessoa mais atarefada na vida, o feriado é uma oportunidade de colocar o trabalho, a cultura e o social em dia. Estranho é que, apesar de tantos planos, não lembro de ter feito coisa alguma neste feriado. O problema de quando ficamos velhos não é falta de tempo, mas sim uma falta de paixões ao estabelecer prioridades.
Outro probleminha que descobri, é difícil ser a única redatora de uma "publicação" que se propõe a ser original e, se não diária, ao menos "biária" (aquilo que acontece a cada dois dias????). Hoje tá difícil, então vou ter que citar Borges (e esse é ele de verdade e não aquelas falsificações mal feitas que rolam por ai na net)
"Fui feito de uma matéria desagregável, de misterioso tempo
Talvez o manancial esteja em mim
Talvez de minha sombra surjam fatais e ilusórios dias"

PS:
O Feriado também foi tranquilo no blog mas é bom ver que ele não está atraindo somente os taradões do google, também entraram aqui procurando por "eu odeio franco da rocha", "treinos de boxe", "dietas de proteínas" e até mesmo um australiano procurando por um viajante do tempo!


terça-feira, junho 17, 2003

 
A nossa loucura de cada dia:
(parte 4)

A pior coisa de freqüentar academia é que antes você só achava que tinha que perder uns quilinho e depois começa a ficar incomodado com aquela dobrinha milimétrica na barriga que só você vê, com a proporção de gordura no seu corpo, que sempre será alta não importa quanto baixa ela estiver e outros detalhes que viram um problemão.
Quase todo mundo que eu conheço da academia já tentou alguma solução mágica para problemas que, muitas vezes, são imaginários: dolorosas aplicações de lipostabil para afinar a cinturinha, doses cavalares de estimulantes para agüentar treinos extensos, suplementos de aminoácidos para crescer, chá para emagrecer, dieta de proteína para rasgar, dieta de carbo para render, dieta de água para sumir.
Categoria nova, depois dos alcaholics e workaholic, surgem os bodyaholics, cujo o sonho de consumo é uma lipoaspiração, a ultima refeição no corredor da morte seria um shake de mioplex, o feriado mais odiado é a páscoa e tem como lema de vida "só preciso perder mais dois quilos". Os bodyaholics ficam felizes com elogios mesmo achando que ainda possuem um longo caminho pela frente, o objetivo não é mais saúde nem prazer pelo esporte, é estético, e se paga o preço alto, não na forma de lesões, de péssima alimentação ou social, mas sim numa eterna frustração narcisista na busca por um objetivo inalcançável, não porque têm como parâmetros modelos estéticos irreais mas simplesmente porque não conseguem enxergar o próprio corpo, ou talvez nem mesmo se sintam confortável dentro dele.
Duro conviver no meio e não se tornar um bodyaholic, eu cheguei até mesmo a estar quatro quilos abaixo do meu peso saudável, hoje gosto dos meus dois quilos a mais, eles me aquecem no inverno.



domingo, junho 15, 2003

 
A nossa loucura de cada dia:
(parte 3)

Hipocondríacos... Minha irmã já sofreu de todas as dores possíveis, lembro do meu pai, quando ainda morávamos juntos, com frasquinho de baralgim espalhados pela casa, minha vó de 86 anos, a mais de 4 décadas atrás, chegou a pedir extrema-unsão duas vezes e contava a seus filhos historinhas de horror sobre suas possíveis mortes, meu sobrinho de 3 anos é louco por "dodóis" e diz que precisa ir no médico a toda hora. Como sobreviver a essa maldição???
Deprimi, tive gastrite, me recuperei, virei atleta, tive lesão no joelho de tanto pedalar, melhorou, tive lesão no ombro de treinar boxe, voltei pra bike, lesão no tornozelo em tratamento, miopia aumentando, óculos novos, suspeita de ceratocone, "será que estou ficando cega?", de castigo sem poder usar lentes, dores de cabeça fortíssimas, "será um tumor?", to cansada, "é, deve ser tumor".
Será que sou hipocondríaca? Não perco um episódio de ER...
Ou serei eu um imã de doenças psicossomáticas? Dramática...
Que atire a primeira pedra aquele que nunca achou que ia morrer quando passou mal por causa daquela azeitona da empadinha ou sentiu todos os sintomas quando viu aquele programa especial sobre cancêr vesicular...
Quanto a mim, até que sou normal se levar em conta minha genealogia.


quinta-feira, junho 12, 2003

 
Para o dia dos namorados
e todos os outros...

Ontem assisti um programa na GNT chamado "A guerra dos sexos". O programa mostrava várias experiências científicas que analisavam as diferenças entre os sexos. Por exemplo, garotas, se quiserem achar um cara que seja macho, banhado em testosterona, um excelente reprodutor, procurem um homem com o dedo anelar consideravelmente mais longo que o indicador, isso indica que ele recebeu altas doses de testosterona antes de nascer e terá as características masculinas bem desenvolvidas: boa força muscular, agilidade física, orientação espacial e outras coisas que fazem um homem útil a sociedade. Agora não espere que ele lhe declame poesia, entenda seus sentimento ou mesmo consiga completar uma sentença inteligente enquanto dirige. Isto porque as conexões mentais do cérebro feminino são mais eficientes graças ao estrógeno e a melhor integração do cérebro. Neste caso, procure um homem de dedo indicador grande, mas mesmo assim não é garantia. Melhor é não perder as amigas quando estiver namorando...
Caso você procure um parceiro de xadrez desafiador, prefira um homem. A mulher tem a capacidade de efetuar duas ou mais tarefas complexas ao mesmo tempo, os homens só podem se dedicar a uma, por esse motivo eles são mais eficientes jogam xadrez ou num calculo matemático, pois sua atenção estará voltada só para aquilo, mas se houver um terrorista no recinto, a mulher será a primeira a perceber. Por este motivo os homens são mais egoísta, se eles não conseguem se concentrar em mais de uma coisa ao mesmo tempo, como se concentrar no outro? É fisiológico, mas não é desculpa, tudo pode ser treinado. Do mesmo jeito que existem excelentes matemáticas e jogadoras de basquete. Mas a mulher é mais adaptável, razões evolutivas, ela vive mais tempo, cria seus filhos e os filhos de seus filhos, já o homem, quando não pode mais prover alimento e defender seu território, passa a ser descartável para a natureza. A testosterona é sua fonte de combustível e sua sentença de morte. Por isso, os meninos, quando nascem, são mais robustos que as meninas, porem seus sistemas imunológicos são mais fracos e seu desenvolvimento neurológico está 4 semanas atrasado em relação as garotas.
Quanto ao sexo... Isso todo mundo quer saber... Todo mundo acha que sabe... Mas a verdade é que sim, os homens, por razões biológicas, sente maior impulso sexual. Só para se ter idéia, um homem jovem saudável produz cerca de mil espermatozóides a cada batida do seu coração, isso dá um bilhão de espermatozóide para cada óvulo (ah se fosse assim...). Mas a pergunta é, quem aproveita mais o sexo? Surpresa, são as mulheres. Os orgasmos femininos são de melhor qualidade que os masculinos, elas podem ter vários orgasmos num período mais curto e também graças a qualidade de seus processos mentais são mais bem assimilados. Por isso não precisamos de tanto sexo quantos eles, porque temos qualidade!
Homens e mulheres possuem diferentes estratégias para viver, eles atacam a vida de frente, fazem guerra, não são pacientes; elas são atacadas pela vida, estabelecem contato com o mundo, criam vínculos, criam vidas.
Bom, agora que vocês já tem as informações básicas; mulheres não transam como homens, não bebem como homens e nem dirigem como homens e homens não falam como mulheres, não se preocupam como mulheres e se apaixonam a seu próprio modo, que tal deixar os papéis de lado ser sermos nós mesmo só por hoje?




terça-feira, junho 10, 2003

 
About the blog
Vou dar uma trégua nas lendas de Botucatu para falar das lendas deste Blog mesmo. Essa semana chegaram aqui procurando "blog + Giuliana + drogas". Gostaria de saber se essa pessoa ficou feliz com o que viu. O problema do blog é a frustração de não saber porque os seus leitores o procuram. Curiosidade sobre a vida alheia? Um engano? Porque o blog é bem escrito? Tem dicas interessantes? Eu, particularmente, prefiro ter 2 leitores do que 50 "invasores", aquele tipo que entra na sua pagina procurando por termos como "sexo grupal com cadávers", "como encontrar Jesus", "arca de noé para exploração do espaço", alias, este ultimo até gostaria, provavelmente seria um cara muito criativo... De qualquer maneira, um escritor, se vende 5000 livros, dificilmente esta pessoa pagou uma nota e não vai ler ou comprou um livro romance achando que era um livro de culinárias. Alias, tem gente que sabe tanto o que quer ler que lê Paulo Coelho, aquela coisinha básica, sem originalidade, que tem gente que chama de literatura
Outra coisa chata nos blogs é que eu, como boa leitora de literatura, fico conversando com o livro, queria ter o autor na minha frente para descordar, parabenizar ou dar uns tabefes nele. Mas o leitor do blog dicifilmente faz isso, mesmo podendo, o leitor do blog é um navegante, e seu barco nunca para. Matéria da faculdade no ano passado, tudo na internet é hipertexto, dificilmente o leitor vai até o fim da página sem clicar em algo antes, links, links, links, impulsos telefônicos, tempo, tudo é efêmero e essa lenda já estourou seu tempo.
Mas eu voltarei...


domingo, junho 08, 2003

 
Lendas de Botucatu - Perseguidores Implacáveis.
Era uma terça-feira de junho de 1999, excepcionalmente quente para aqueles dias. Acordei cedo e vesti meu traje padrão de zootecnista, que incluía tênis marrom, calça jeans e camiseta branca.
Como marcado, ao nascer do sol, já me encontrava no Lajeado para confrontar meu destino. Subi confiante a escada do ônibus. Professor Nicolau já nos aguardava e seguimos para uma fazenda de eqüinos para cumprir nossa missão.
Sei que assim que pisei no solo da fazenda eles sentiram minha presença. A pastagem se agitava com brisa quente, eles se espalhavam. Eu só via cavalos castanhos, narinas dilatas, terra vermelha... limpei o suor da minha testa com as costas da mão. Seria um longo dia.
O fazendeiro nos explicou a situação: uma fazenda de gado, dois cavalos garanhões, muitas éguas de péssima conformação; cabeças iriam rolar.
Sem saber, eu os atraia em minha direção. Atravessei um campo curto coberto de capim de cerca de um metro e cheguei até o estábulo dos potros, mal sabia eu que tudo começava ali. Subi num tronco e me debrucei nas tábuas que formavam a parede. Conversei com os animais, mas não tinham muito que dizer. O calor ficava cada vez mais insuportável e voltei para o meu bando para avaliar os animais.
Passamos uma hora de pé no meio do mato, duas horas, três...eu podia sentir, passei as mãos pela perna, três milhões, subindo pelas calças, por dentro, por fora, três milhões de micuins, minhas mãos ficaram cobertas de pontos marrons do tamanho da ponta de um alfinete. Eles agarravam a minha pele com unhas e dentes, sugando meu sangue.
Foi uma das lições que a vida me ensinou: entre março e julho, estas criaturas demoníacas, larvas de carrapato, ficam em grande número nas folhas das gramas ou de pequenos arbustos esperando pacientemente sua presa, fazem dela um banquete, submetendo-as a uma coceira infinitamente terrível.
Por uma semana tive que andar de bermuda e chinelo no "fresco" inverno de Botucatu. Lavei minha roupa com todo tipo de veneno existente, daqueles que tem caveirinhas no rotulo. Por dias achei “vampirinhos” na minha pele e no meu lençol. Não dei trégua até que tivesse exterminado todos eles, exceto os do meu sonho. Durante meu primeiro ano na faculdade, quando freqüentava semanalmente o setor de eqüinos, era a imagem deles andando sobre minha pele que me acordava, eu acendia a luz no meio da madrugada vasculhando por sinais de micuins ou gordos carrapatos estrelas.
Pulverizamos o setor de eqüinos também da fazenda Edegardia, testei todos os repelentes disponíveis em mercado, habituei-me a tomar banho com sabonete de enxofre antes de minhas visitas, passei a evitar os arbustos e nossos encontros foram rareando, não voltei a encontra-los desde 2000, mas sei, que em algum canto úmido, eles aguardam, invisíveis e sedentos, por um descuido meu.



sexta-feira, junho 06, 2003

 
Lendas de Botucatu - Caça aos Morcegos

Wilson Uieda é o maior morcególogo da America Latina e foi meu professor na UNESP lá em Botucatu. A Virgínia, esposa dele, também não fica atrás e era chefe da cadeira de zoologia. As tardes de segunda-feira sentávamos nos fundos do departamento de zoologia e aguardávamos no sol pela dupla e sua coleção de bichos empalhados. Eu poderia falar por horas daquelas tardes ou sobre como professores como eles são raros e preciosos. Mas eu escolhi uma aula só, um das aulas mais "inusitadas" da minha vida; poderíamos escolher entre quatro aulas de campo, e eu, claro, escolhi "caçar" morcegos com o seu Uieda.
É óbvio que devido a natureza do sujeito, a aula ocorreria ao anoitecer. A trupe das 9 alunas que escolheram acompanhar o cara estavam animadíssimas e nem se lembraram do fato de que o horário de verão não afetava os morcegos. A seis da tarde já estávamos, como combinado, reunidas na parte mais tranqüila e perto da mata fechada da Fazenda Lajeado.
Quando o professor Uieda chegou, pediu desculpas por ter se esquecido do problema com o "fuso horário" e perguntou se nos importaríamos de ficar até mais tarde. Instalamos 3 finas redes para captura dos morcegos entre as árvores a cerca de 30 metros de onde estávamos e nos sentamos numa clareira esperar escurecer.
Duas horas ouvindo os casos do Uieda, que freqüentou os lugares mais ermos do Brasil e da America latina em busca dos pequenos mamíferos já estava me sentindo a própria aluna do Indiana Jones oriental. Ouvi histórias, aprendi sobre Desmodos rotundo (os vampiros sanguinários!!!) e as lendas mais estranhas a respeito das pequenas criaturas.
A noite caiu escura no lajeado. A cada quarenta minutos íamos até a rede e retirávamos com cuidado os morcegos colocando-os em sacolas para identificação posterior e voltávamos contentes na absoluta escuridão para continuar a conversa na roda.
Já passava das onze quando retiramos as redes e seguimos para o terreiro do café, um local próximo e aberto, onde catalogaríamos os morcegos e os soltaríamos. Fiquei expert em reconhece-los, foram cerca de 30 frugíveros, um comedor de insetos e, para minha tristeza, apenas 3 hematófagos. Os Draculinhas andam em baixa e, apesar de feios que só vendo, são criaturas muito simpáticas, fazem até trancinhas em crinas de cavalos! Distinguimos as fêmeas dos machos, fizemos apalpação das grávidas, discutimos a sexualidades deles e por fim soltamos os danados.
Acho que nunca cheguei tão tarde de uma aula, lá pela meia-noite...
Você estava esperando um final espetacular? Alguma moral?
Bom, foi isso. Foi muito bom, adquiri um certo carinho pelos morcegos. Não sei como eles vão me influenciar na minha vida como psicóloga. Mas essa foi uma história que devia a Virgínia e ao Uieda. A história que eles me deram.




terça-feira, junho 03, 2003

 
Lendas de Botucatu - A estrada para Edegardia.
Era uma manhã quente em Botucatu em algum canto de 1999 quando eu descia a estrada de terra da Fazenda Edegardia. Não consigo localizar precisamente o mês. Aqueles dias se condensam em minha memória quando tento organiza-los. Prefiro deixa-los assim, latentes e dilatados.
A estrada da Edegardia é um lugar meio santificado para mim. Uma espécie de ligação com um mundo onde o tempo não existe, na fazenda cada ser tem seu próprio tempo, a única regra é: verão, estação do calor escaldante, e inverno, estação do calor gostoso. A estrada é uma espécie de abrigo, cercada de uns poucos quilômetros de mata, desenhada com sombras e luzes que se infiltra por entre as arvores, palco de uma das mais belas vista para o vale que se forma a seus pés, a leve bruma de terra que se espalha no ar, o silêncio que impera, o fio d’água que corta a estrada no verão repleto de borboletas que voam por todos os lados ao passar dos carros. Tudo conspirava pela magia do lugar.
Mas é estrada, caminho, passagem, de gente que vai e volta, de gente que passa, de terra batida, de buracos e pedregulhos, é pirambeira.
Só que naquela manhã eu me surpreendi com um habitante da mata, um cervo cruzou meu caminho e parou na frente do meu carro. Olhos arregalados me observavam, orelhas como dois radares na minha direção, o pelo castanho brilhando. Desliguei o carro e debrucei sobre o volante e lá ficamos, os dois parados, trocando olhares, segurando a respiração. Num gesto elegante abaixou a cabeça, como num cumprimento, e atravessou a estrada cedendo passagem. E apesar de só haver dois sentidos para seguir, lá eu senti, a estrada era minha e eu poderia ir para onde eu quisesse ir.



segunda-feira, junho 02, 2003

 
Vertigem:
Que paz é ficar perdurada a 80 metros de altura na beira de uma cachoeira. Escalada, rapel, não importa a direção, na pedra é tudo igual, a pedra é seu horizonte.
A pedra que não morre, se transforma; não tem angustia, tem atrito; não tem sabedoria, tem magnitude. Percorrer a pedra não é desafio, é integrar-se a terra.
É preciso disposição para conhecer a pedra, atenção para anteceder-se a gravidade, paciência para a lenta jornada. Viver a pedra é conhecer sua própria força, conversar com o corpo. De mão queimada pela corda, dedos calejados, joelho sangrando. É o corpo que se adapta a pedra.
A pedra não dá medo, o medo é da idéia, da idéia de se estar vivo, de se estar longe do chão, de não sentir frio, de não sentir calor, de não sentir dor. Que paz é poder abraçar a pedra.





terça-feira, maio 27, 2003

 
Dos excessos:

Eu aqui falando em aprimorar meu português enquanto 'S' (assim é melhor chama-lo) está prestes a lançar seu livro na Saraiva. S provavelmente nunca leu mais que 2 ou 3 livros na vida, alias, S não escreveu nem mesmo seu próprio livro, contratou um ghost writer!
E eu preocupada com a referencia em meus texto, com a originalidade de cada idéia, e Paulo Coelho na academia Brasileira de letras graças a sua única idéia, nem tão original, de reciclar texto alheios.
Toda minha vida eu fui muito gorda ou muito magra, muito alta, pouco alta, muito nova, muito velha, muito ignorante sobre tal assusto, não muito esperta, nem muito tímida, nem muito expansiva. Muito fraca, muito forte. Talvez certas vezes ótima amiga, outras, péssima amiga. Excessivamente dramática, totalmente apática.
Seria bom ou seria hipocrisia fazer como estes caras ai e se concentrar naquilo que é suficiente?
Não importa, talvez seria apenas mais feliz.
É Wilton, o superlativo não faz de nós necessariamente uma pessoa melhor...


domingo, maio 25, 2003

 
Verbetes:

As vezes tenho o estranho desejo de voltar a estudar português. Acho que passei pela gramática sem aprender nada. Ligia, quem sabe um dia eu a contrate como minha professora de portuguesa.
Eu mal sei a diferença entre um objeto direto e indireto, e isso não é nada: crases, acentos, pontuação... vai tudo no chute.
Dentre o pouco que aprendi está a coisa. Essa "coisa" mesmo. Que todos os professores afirmavam que não devemos usar porque não fala absolutamente nada. Totalmente inútil e despresível. Eu era contra, falava muita 'coisa'. Ainda uso a 'coisa', reconheço seu potencial filosófico mas não aprovo no dia a dia.
A pouco tempo me dei conta que eu odeio esta coisa de "coisa". Que fique claro, há certos momentos que quero saber sobre o que estamos falando.
-Como vão as coisas?
-Que coisa?? Ah! as coisas... aquelas coisas????Diga uma coisa!

e a coisa continua
-Me liga qualquer coisa.
-Alo?! To ligando pra falar da coisa.

ou
-Alo... To ligando pra falar que tomei um copo de leite. Que coisa, né?
pra piorar
-Vamos fazer qualquer coisa?
-Ah sim, claro, ótima idéia, tenho um velório para ir.

e a minha predileta:
-Me trás alguma coisa?
-Que coisa?
-Ah, qualquer coisa... Uma surpresa!
-Querida, que é isso?
-Surpresa! Uma coisa que achei lá fora... Coitado, faz dias que ele não toma banho!

É, a coisa diz tudo... e não diz nada. É o total "me ausento de qualquer responsabilidade" e... qualquer coisa a culpa é sua.


sábado, maio 24, 2003

 
My wish list:
Que galera pidona meu!!!
Acho que vou montar um setor público "Wish list" aqui no blog, que tal?
Ah! E se alguem quiser me dar um destes posters...




Alias, essa idéia do Wish list, não foi original, tirei do
site do Amaral, um rapaz de belos olhos e que, apesar de advogado, escreve bem. Mas aparentemente anda sem desejos consumistas.



quinta-feira, maio 22, 2003

 
Matrix Reloaded:
Fã de ficção científica que sou até que foi fácil esperar quatro anos por Matrix Reloaded, foi fácil esperar meia hora na fila, duro mesmo foi aguentar as duas horas e vinte de filme. Matrix, que nunca foi um filme humilde, agora volta mais pretencioso do que nunca. O orgulho dos diretores transborda em longas cenas de luta, de luxuria ou de discursos plasticos. Filosofia barata, delongas nerdologicas, pinceladas de mitologia grega, referências bíblicas, roupas de vinil e muitos, mas muitos, óculos escuros. É a "personificação" do "não trepa mas também não sai de cima", nem o velho samurai Mifune ficou de fora. Matrix é realmente Matrix; um filme de aparência.
Ah! Vá assistir X -Men...



terça-feira, maio 20, 2003

 


Num sei não mas o Holden Caulfield e o Calvin devem ter algum parentesco.


segunda-feira, maio 19, 2003

 
Reflexões sobre "O apanhador no campo de centeio":

Estou aqui olhando para o meu exemplar de “O apanhador no campo de centeio” do Salinger o qual acabo de ler pela segunda vez. Não vou fazer uma resenha do livro, quem quiser saber mais vá ao Digestivo cultural que já esta bem colocado ou leiam um trecho ou o livro todo!
Reli porque da primeira vez que li não conseguia deixar de suspeitar da inocência do personagem. Culpa do Mark Chapman que pediu a John Lennon que autografasse uma cópia do livro, e no mesmo dia o assassinou. Quando perguntaram por que ele matara John Lennon, ele disse: “Leia O Apanhador no Campo de Centeio e você descobrirá porque o fiz. Esse livro é meu argumento”. Ou o Lennon escreveu algo muito feio no exemplar do cara ou até o “Pequeno Príncipe” serviria de argumento para esse cara. Fiquei o livro todo esperando que Caulfield pirasse e matasse alguém por ai. Acontece que ele é o adolescente mais doce que poderia não existir. Como todas outras crianças do Salinger.
O apanhador é a preservação da infância, é esse o sonho de Caufield; é duro crescer num mundo como esse, onde tudo aponta para um futuro artificial, vazio, desprovido de energia. É por isso que esse ano o livro faz 52 aninhos e continua atual.
Eu já andei dando esse livro de presente por ai e se tivesse que escolher um livro para dar a todos meus amigos seria esse. Talvez porque Caulfield nos desperte do nosso próprio vazio ou porque ainda hoje acho que nós dois temos tanto em comum.

Bom, seja como for, Salinger é hoje um senhor que vive isolado no meio do mato e deixou apenas 4 livrinhos (dizem que ele finalmente está terminando o quinto!) muito bacana por ai: ‘O apanhador’, ‘Nove Estórias’, ‘Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira/Seymour - Uma Introdução’ e ‘Franny e Zooey’. Os três primeiros eu li e aprovei e o últimos não consigo encontrar, se alguém tiver ou comprar e quiser fazer uma criança feliz...



quinta-feira, maio 15, 2003

 
História de família

Esse cara ai do lado, com pinta de galã de filme dos anos 50, se estivesse vivo hoje estaria com 89 anos, 60 de casamento, 4 filhos, 9 netos e 6 bisnetos (still counting). Estaria provavelmente andando de casa em casa de cada filho para pegar o jornal, levar o jornal, correr as notícias, saber se estavam bem, defender os netos dos pais e os bisnetos dos netos. Acordaria cedo cheio de disposição para ir até São Bernardo paparicar o mais jovem e ainda teria tempo de vir puxar minhas orelhas por não estar trabalhando.
Ninguém ia imaginar que esse homem, que trabalhou metade da vida como mascate, foi da Alemanha a Nápoles, em meio a Segunda Guerra, montado num burro, que engessou seu próprio pé e atravessou Paris engessado para fugir do alistamento ou que no meio dos panos que vendia escondia pequenas fortunas em pedras preciosas as quais lhe rendiam um bom dinheiro ao contrabandeá-las. Salvatore Barretta não era parente de mafiosos, ninguém lhe pois o apelido de um destes capangas hollywodianos grandalhões “Sal”. Não precisou, foi nosso vô, o mesmo que atravessou Espanha, Inglaterra, Venezuela e outros tantos paises em meio a guerra na tentativa de dar uma vida descente para a família dele em tempos tão difíceis. Aprendeu sozinho francês e alemão, que muitas vezes lhe salvaram a vida, criou quatro filhos trabalhadores e honestos que lhe acompanham por toda a vida e levantou todo dia as cinco da manhã para ver o sol nascer sem ganas de aventureiro mas cheio de vontade de viver.
Em 1951 Salvatore mudou de planos devido a guerra, não moraria mais na Alemanha, e embarcou com seus três filhos e sua mulher grávida em uma viagem de 3 meses rumo ao Brasil, e foi assim que eu cheguei aqui... 26 anos depois.



segunda-feira, maio 12, 2003

 
O porquê cansei de brincar com o médico:
Não dá pra resistir a postar isso no blog. Eu queria falar mal do cara com quem estava saindo mas o que vou falar poderia ser sobre qualquer um.
Dizem que as mulheres é que são malucas então você conhece um cara de futuro promissor, de belos olhos azuis, ligeiramente mais alto que você e com alguns interesses parecidos. Você, como mulher ideal que é, não liga para o fato de ele ter levado um pé após 5 anos de namoro, das partidas de futebol e da cervejinha com os amigos e nem mesmo de ele ir sozinho naquela festa que você não tá afim mesmo. Mas ele não sabe de nada disso, ele mal te conhece e tem certeza do quanto você é maravilhosa (você sabe que isso não vai acabar bem). Dali a alguns dias você é parte da vida dele; telefonemas constantes, flagrantes embaraçosos, membros da família e ele vai fazendo planos para o futuro enquanto você acena desconfiadamente. Parece que meses se passaram, na verdade foram poucos dias que te atropelaram até você começar a acostumar com a idéia; talvez ele seja um cara legal, talvez você esteja sendo pouco romântica, quem sabe você também não devesse ligar para ele, ser um pouco mais atenciosa.
Então você liga para ele, ele te retorna a ligação, faz planos e some. Um hábito recorrente... A verdade é que todos os planos que ele fez para o futuro “vamos para praia, vamos para Brotas, vou te levar em tal lugar, você tem que ver tal coisa”, nunca foram planos feitos para você...
Acho que já sei quando as coisas começaram a mudar, ele pergunta “vamos saltar de pára-quedas?”, eu digo que não e então ele começa a desconfiar que eu não sou bem aquilo que ele achava que eu era; a pessoa que iria realiza-lo. Eu gostava de estar com ele porque eu me sentia comum ao seu lado, enquanto ele parecia querer estar comigo porque eu era incomum para ele. Conflito de interesses, uma pena, da próxima vez já vou avisando, eu não sou tão forte assim.



quinta-feira, maio 08, 2003

 
A nossa loucura de cada dia:
(parte 2)
Teve uma época, há uns dois anos atrás, que eu viciei em jogar paciência. Jogava toda noite, por uma hora ou duas, as vezes mais, até ficar totalmente anestesiada do mundo. Não por falta de opção, não por tédio, eu simplesmente viciei. Não lia mais a noite, não assistia tv, não escrevia, não usava a internet, meu negócio era jogar, não qualquer jogo, mas jogar o monótono e repetitivo paciência. No som o CD acabava e eu nem percebia, a fome passava da hora, eu nem sentia o pescoço duro e esquecia os olhos grudados no monitor. E, o pior de tudo, eu tinha uma explicação para minha obsessão! Enquanto jogava eu ficava formulando teorias sobre como jogar paciência era importante para se vencer na vida. Os conceitos que aprendemos; persistência, observação, estratégia, antecipação, memória, paciência... Balela, eu estava era um caos mesmo. Cheguei a uma atitude radical apagando o jogo do meu computador, dois dias depois fui lá, como um alcoólatra voltando confiante ao bar que só vai tomar uma, reinstalei o jogo. Não sei como me curei do vicio, talvez porque meu tempo foi tomado por uma paixão tão louca e descabida quanto jogar paciência em busca do segredo da vida.
E ainda tem gente que me acha careta por não quer fumar um baseado...


quarta-feira, maio 07, 2003

 
A nossa loucura de cada dia:
(parte 1)
O Wilton acha que grau de insanidade se mede pela capacidade de chapar o coco. Bom, no nosso meio, insanidade é algo positivo. Dizer que fulano é louco parece quase um elogio, talvez porque ser louco seja fugir dos padrões desse mundo chatinho que tanto tememos. Certa vez o Wilton me disse que eu era mais louca que ele, não sei como o convenci disso, até porque ele é o cara mais louco que conheço e eu não sou de chapar o coco. Alias nem passo perto destas "mercadorias", já tenho uma tendência suficientemente auto destrutiva e uma enorme dificuldade de manter os pés no chão, vícios e manias não me faltam, não preciso adquirir mais nenhum deliberadamente.
Um dos meus vícios mais preocupantes é o de cheirar. Não cheirar coca ou cola, tais cheiros não tem graça, só cheiro do bom e do melhor. Eu peguei essa mania a uns anos atrás. Começou com aquelas barraquinhas de frutas que exalam um perfume forte no verão. Cheirei uma pêra, avaliei o odor adocicado, passei para um pêssego, marcante, uma laranja, até que frutas não fossem suficientes e assim percorri todo o setor alimentício. Com o decorrer do tempo minha curiosidade nasal aumentou, madeira, plástico novo, substância voláteis... controlo bravamente minha obsessão por produtos químicos, gasolina, verniz, solvente, respiro fundo quando passo por eles e não os procuro mais, mas não nego que fazer as unhas me proporciona alguns segundos de prazer.
As vezes me imagino como um daqueles pacientes do Oliver Sacks, talvez um tumor na lóbulo olfativo, ele cresceu como o de um cão, tenho que cheirar tudo, se eu morrer vai ser por causa do tumor, não do tóxico...
Entre nossos cinco sentidos o olfato esta em quarto lugar em termos de percepção, apenas antes do tato. Nossa atenção está voltada para os olhos, simplesmente esquecemos dos outros sentidos. É por isso que fechamos os olhos ao beijar, focalizar a atenção. Eu não sei nome de perfumes, mas conheço tão bem o cheiro de algumas pessoa que até me assusto. E não é só, guardei um frasco de creme hidratante por 3 anos só porque quando sentia seu cheiro eu estava novamente no quarto de albergue em Londres. Fácil, né?
É, Wilton, isso sim é coisa de louco... onde já se viu escrever uma coisa destas?


terça-feira, maio 06, 2003

 
Observação

Hoje fez uma daquelas tardes, não sei se alguem reparou. O sol esquentava enquanto o ar esfriava aqui em São Paulo. Estas tardes me deixam nostalgica, em Botucatu era o Outono inteiro assim. Não é nostalgia das pessoas, da faculdade ou da cidade, é uma saudades daquele céu azul, do ar frio que queima na face, do calor absorvido no rastro do sol, do silêncio que impera e que comove. O silêncio que me inspira, o silência da criação, das posibilidades, do encantamento. Esse silêncio, nestes dias assim de céu azul, que me faz pensar como é inútil lutar contra a morte mas como fácil viver.



sábado, maio 03, 2003

 
Frenesi:
Acabei de ver o DVD de "Frenesi" do Hitchcock que vem com o trailer para cinema do filme. Acho que se eu contar vai perder a graça, mas ao assistir aquele trailer fiquei me perguntando como que aquele senhor consegui ser o maior diretor de filmes de suspense. Até da para perdoar o filme por ser totalmente previsível em cada cena, o rascunho de serial killer que é nosso vilão e os furos de roteiro onde tudo se resolve tão facilmente, talvez o público fosse mais ingênuo na época. Talvez Hitchcock tenha sido inovador, takes inusitados, sem pudores em fazer o público simpatizar com uma personagem para em seguida mata-lo, sem precedentes em sua época. Pode ser injusto fazer comparações do tipo "Janela indiscreta" e "O quarto do pânico", mas numa era MTV fica difícil ignorar um trailer e talvez esta seja a verdadeira razão de tamanho frenesi; Hitchcock, em seu trailer tosco, boiando no rio, entre sacos de batatas, cadaveres e sopa de peixe participou da germinação do video clip e de filmes como o próprio "Quarto do pânico". Assistam e tirem suas conclusões.


terça-feira, abril 29, 2003

 
Achados e perdidos
Um dia muda-se escola, de cidade, de telefone, de e-mail, de vida... Assim vamos caminhando, sem muitas vezes notarmos o que deixamos para trás. É, a vida continua. Mas tem coisa que não dá pra se conformar em ter perdido assim de bobeira. Então vou abrir este achados e perdidos. Se você também perdeu algo e ainda não desistiu de procurar, essa é sua chance.

Camila Melachauskas
Também atende pelo nome de Milla. Natural de Campinas, conhecida na UNESP de Botucatu como Nordete, iniciou o curso medicina em 1999, parou em 2000, retornou em 2001, sumiu. Platão? Faculdade? Colapso nervoso? Mudou-se para Fortaleza? Evaporou?
Se você conhece o paradeiro desta avisem neste mesmo Blog, por favor. Milla ficou de cuidar do Selo, meu cavalo de traços, e sumiu, não tive mais notícias de ambos.
Obrigado.

Ah! aqui vai o retrato falado, congratulem a artista pela obra.






segunda-feira, abril 28, 2003

 

Bartolomeu:
Putz, como eu poderia deixar aquele cachorro de fora?! É, cachorro mesmo, tomba lata, uma mistura de Akita com Mastin (?) grande e desajeitado. Foi presente da Kota para a república das meninas .
O meu relacionamento com o Bart demonstra como toda vida a dois é possível com um pouco de suor e conversa de ambas as partes. Quando elas o ganharam, já bem grandinho, eu cheguei a pensar em nunca mais aparecer por lá. Eu adoro cachorro mas aquilo... aquilo era um monstro saltitante comedor de canelas. Era eu atravessar o portão e ter que arrastar ele por todo jardim até entrar na casa.
Certo dia, a conselho da Kota, eu resolvi conversar com ele. Depois de ter a mão quase arrancada, muitas dedadas no focinho e um longo papo sobre quem era o chefe ali, decidimos iniciar uma amizade. Não demorou muito era eu quem corria atrás dele no jardim, babava nele quando ele sentava obediente ou com seus 30 quilos dormia no meu colo. Nunca mais consegui sair daquela casa sem estar suja de terra, com a barra da calça babada ou com alguma escoriação. Mas valeu a pena.
Então se ele for um cachorro, não espere que ele fique pensando em você quando estão longe, leve-o para passear, divirtam-se e saiba que ele não estará para sempre que você, mas lembre-se, se ele for um bom cachorro, os cães nunca esquecem.

Putz, assim que conseguir um scanner "atualizo" a foto dele.



quinta-feira, abril 24, 2003

 
Novs:
A Novs é uma dessas meninas com cara de boa garota, por isso a gente nem estranha quando vê ela abraçando árvores, falando com os cachorros como se eles fossem gente ou com dó das crianças africanas que ela nunca viu. Também esquecemos a idade dela quando ela faz birra que não quer comer nada verde, que não vai jantar ou por ela achar que, se ela fechar os olhos e se concentrar, o mundo vai sumir.
Diz a lenda, que lá na cidade dela, quando bate a meia noite, ela assume a sua personalidade femme fatale e deixa a boa menina de lado. Mas eu não acredito que seja ela. Novs tem um lado escuro, que protege ela do mundo e as vezes ela se perde por lá e todo mundo acha que ela é assim. Porem no fundo ela é só uma criança sabida e se alguém tiver algo contra ela... bem, ela não é como vocês.
O que podemos esperar dela? Realmente não sei. Dificilmente ela irá pedir alguma coisa, se você não tem quatro patas não espere que ela lhe afague e se você não tem muita disposição nem tente encarar os momentos de crise dela. O que mais me divertia nela é que eu podia falar para ela "me conta uma história da sua vida" e ela me contava ou eu narrava todo o ultimo livro que tinha lido e ela ouvia ou roubava o cobertor dela para ela sair e, bom, ai não tinha jeito. Mas as vezes ela topava fazer um programa mala como ir até Bauru domingo de manhã só pra comer no McDonalds, participar de um tal teoria da conspiração de nem sei mais o que ou até mesmo experimentar algo verde!
É bom saber que nem tudo é tão fugaz na nossa vida. É duro convencer ela a vir pra Sampa, mas quantas pessoas conseguem manter uma amizade a distância por tanto tempo e ainda se fazer sentir presente?
Da ultima vez que nos vimos eu fui dar um passeio em Botucatu, eu chegando e ela saindo, cinco minutos. Eu diria que aquela foi a segunda pior viagem da minha vida. Todo mundo parecia estar de saída... Mas não quero reclamar. Perdemos a vontade de reclamar ou quando a coisa não tem mais importância ou porque sabemos o que realmente tem importância.


"Embora nenhum de nós vá viver para sempre, as histórias conseguem. Enquanto restar uma criatura que saiba contar a história e enquanto, com o fato de ela ser repetida, os poderes maiores do amor, da misericórdia, da generosidade e da perseverança forem invocados continuamente a estar no mundo, eu lhe garanto que... será suficiente"
`O Dom da História - Uma fábula sobre o que é suficiente´
Clarissa Pinkola Éstes
PS: foi presente da Novs


 
Xambrada:
Já vou avisando, a Xam não é desse mundo. Mas também não dizer direito de onde ela é. Só vendo para entender. Nem atenta nem alheia, ela é uma figura que, apesar de figura, consegue passar na moita sem nem ao menos saber que está na moita. Mas falar da Xam mesmo só fazendo metáforas absurdas. Então vou falar de nós, se me dissessem que houve um motivo para mim ter feito aquele primeiro ano de faculdade eu diria "resgatar a Xam".
Eu conheci a Xam na porta do hospital na primeira semana de aula. Na verdade fui eu quem levou ela para o hospital mas ela estava meio que desmaiada, simplesmente ficou branca no meio da fazenda, sei lá, muita festa, pouca comida.
Na segunda vez foi na festa do trocado, foi o ultimo porre que ela tomou pelo menos enquanto eu estava lá. Resgatei a Xam, já pra lá de Marraquesh, do meio da multidão antes que algo de ruim acontecesse. Ela sumiu por uma semana e nunca tocamos no assunto, acho que ficou mais de um ano sem beber. A Xam é dessas poucas pessoas que consegue tirar coisas boas das cabeçadass que leva da vida mas ela faz isso sozinha.
Depois veio a crise familiar e pela primeira vez ela chorou e sabíamos o porque. Depois deu umas risadas comigo e com a Novs.
Em Julho de 2000 tentamos ir no aniversário da Monta em Caieiras, fomos no famoso trem que leva a Franco da Rocha e não é que o dito cujo quebra, a rede elétrica entra em curto e nós no meio do tumulto numa noite escura e chuvosa. Deu até para ver a Xam ficando branca que nem daquela vez no hospital. "Calma, Xam", que mais eu podia dizer?
Calma Xam, por onde você anda?
Em Botucatu? Sampa? Marte?
Uma vez foi ela quem me resgatou, lá no orelhão perto da praça. Mas isso ninguém sabe, porque as coisas de Xambrada ninguém sabe.


terça-feira, abril 22, 2003

 
Kagada:
Quando eu conheci a Lilian, apropriadamente apelidada de Kagada, ela não sabia que existiam tipos de bananas diferentes, que existe um treco chamado IPTU ou qual a diferença entre detergente e sabão em pó. Puxa, até que eu to orgulhosa dela agora que ela vai morar sozinha no Texas. Bom, durante o tempo que ela morou comigo ensinei muita coisa a ela, só não consegui fazer com que ela parasse de comer maçã picadinha no potinho ou a passar uma água no copo sujo de achocolatado antes de colocar na pia (para alegria das formigas que dividiam o ap conosco).
Kagada é neurótica, obsessiva e dramática que só vendo. Em época de prova eu estabelecia uma distância preventiva dela, mas apesar disso não era difícil viver com ela. Eu chegava em casa tarde e ela estava me esperando pra assistir jogo do milhão ou então chorando e rindo porque estava de saco cheio da facul. Alias, ela estava de saco cheio desde o primeiro dia de aula, mas ela terminou a faculdade e eu não.
Viver com ela é uma piada, da pra relevar seus picos de mal-humor. A gente briga mas se entende. Sempre achei que se você não tem liberdade para discutir com alguém ou se ofender um pouquinho é porque também não condições para se relacionar com essa pessoa. Quando eu saí do ap quebramos um pau homérico pra ver quem ia pagar a quebra de contrato (as vezes tenho a impressão que certos itens de todo relacionamento também deveriam constar em contrato) no fim eu que paguei a conta. Do mesmo jeito que fui eu quem telefonou para ela uns meses depois por achar que uma amizade deveria valer mais do que uma discussão, como também não ligo de ouvir todas as suas neuroses quantas vezes forem necessárias para ela. Meu único desapontamento é que ela ainda não entendeu que amigo é mesmo para todas essas coisas.


domingo, abril 20, 2003

 


Cacau, Eu, Monta e Kota - Agosto de 1999

 
continuando a roupa suja...

Kota:
Marikota, Maria Regina, com um nome deste vão pensar o que? Marikota é Botucuda, caipora filha de paulista, aquele tipo de menina do interior que sabe tudo do campo mas gosta de ser cosmopolita. Intragável!!! Ou você a ama ou odeia.
Putz, como eu odiava ela e a recíproca era verdadeira. Marikota e Cacau, Marikota e Monta, Marikota e Kagada, dinâmicas questionáveis. Marikota e eu, um dia a Xupeta fica com o cara que eu estava afim e Marikota e eu; odiamos Xupeta.
Marikota nunca estudava, colava, as vezes ela decorava, do mesmo modo como sabia todas as chapas de carro da cidade. Marikota nunca se calava, se tem que dar bronca em alguém, ela é a pessoa para o serviço. Marikota não se inibe em pedir ou em mandar, nem em fazer, dividir ou rir porque, na verdade, amigo é para essas coisas.
Tenho certeza que se alguém é capaz de compartilhar todos os bons momentos e os maus que ficaram na memória, ela é uma dessas pessoas. Lá em Jabotical ela vai deixar saudades, mas não preciso me preocupar com a distância. Enquanto Jaboticabal não chega, Marikota ataca de responsa, faz estágio em Sampa, mas a cidade não é para ela. Lá em Botucatu ela é estrela, aqui é como nós, multidão.



Monta:
Logo que eu mudei para Botucatu fui morar numa pensão, a Carol, ou melhor, a Monta foi a primeira pessoa que eu conheci por lá. Minha vizinha, primeira impressão, achei ela arrogante, mas eu tinha acabado de chegar na cidade. Afinal ela não era má pessoa, ia pra faculdade comigo de carona. Eu me mudei para um ap e ela continuou na pensão. Fazia o tipo nerd-depressiva-carente-mandona, mas eu gostava dela e nunca dei muita bola para o jeito temperamental dela. Durante um bom tempo nós nos divertimos. Em julho conheci o Marcelo, primo dela. Ela adorava a idéia de me ver junto com ele e depois que ele foi embora só me falava dele, o quanto éramos parecidos e tal. Acho que quase me apaixonei pela idéia que ela me deu dele. Mas ele não era bem o que ela falava e hoje ele não fala mais comigo.
Bom, cunhadas a parte, as coisas iam bem, eu acho. No ano seguinte, depois de várias crises depressivas, ela mudou pra república da Cau, da Xam e da Novs. Dividia o quarto com a Xam e se davam bem, foi bom pras duas. Meses depois eu voltei pra Sampa.
De vez enquando escrevo pra falar oi para elas, as vezes ela me responde, outras não. Da ultima vez falei que ela andava sumida. Ela disse que a mãe dela sabia onde ela estava e que andava sem tempo para escrever e eu tinha sido escolhida aquele dia como o e-mail que ela responderia.
Eu deveria ficar lisonjeada, não? Não entendo o conceito de tempo para algumas pessoas, só sei que o meu funciona assim; ele deve ser utilizado com coisas que valem a pena. Talvez as coisas tenham mudado e hoje não valha mas gastar comigo, nesse caso eu tenho que entender, amigos são para essas coisas. De qualquer forma prefiro não pensar que existe outra resposta.


quinta-feira, abril 17, 2003

 
Amigo é para essas coisas...
Quando fazemos um amigo o qual passamos 15 horas diariamente junto parece que aquilo nunca vai acabar, mesmo assim, por melhor que esteja, somos obrigados a assumir coisas novas na nossa vida que passam a dividir espaço com as velhas e, eventualmente, tomam o lugar delas. Quando eu larguei a faculdade achava que tudo ia ficar lá como eu tinha deixado, três anos em julho, muita gente sumiu da minha vida. Eu fui sumindo da minha vida.
Muita coisa mudou na vida destas pessoas, hoje elas reclamam uma das outras. Uns reclamam para mim, desculpe a inocência, prefiro que não reclamem pois eu não estive por lá pra dizer o que mudou. Mas elas nunca reclamam com o sujeito da reclamação.

Então esta semana vou lavar a roupa suja e vou falar o que eu lembro, beleza?



Cacau:
Foi por causa dela que isso tudo começou, por falarem que ela se aproveitou de mim. Deixe-me refletir um pouco.
Não que conversemos muito hoje, nem acho que conversávamos na época. Tínhamos em comum o nosso mundo e ele não está mais lá.
Cacau um dia me convidou para entrar e eu nunca mais saí. Dizem que ela andava comigo porque assim tinha carona, bom, se era por isso ela pagou um preço alto; me agüentou, ficou com o D.A. de herança, teve que ir pra Brotas comigo, ajudar na minha mudança entre outras tantas coisas.
Prática, devia ser difícil aguentar todo meus sentimentalismo. Ela era daquele tipo de pessoa que fala com todo mundo, que resolve tudo. Tem uma reclamação do seu Lula? "Então tu fala com ele". Com ela não tinha drama, puta inveja disso!
E haja energia. Cacau passava cola pra todo mundo, tem o pensamento mais rápido que eu conheço. E limpar o vomito da Kota do tapete da república de madrugada, isso eu não faria. Deixar que eu matasse minha carência canina com o cachorro delas foi um gesto nobre.
Quem passava a tarde de sexta comigo fazendo hora no Lajeado, arranjando festa para ir, inventando almoço de domingo deve ter me usado mesmo, thanks!
Quando eu saí de lá algo já parecia estar mudando, talvez a greve, talvez a idade, talvez a perspectiva de tempos mais duros, não sei mesmo o que aconteceu. Não me importa, amigo é pra essas coisas! Um dia a gente se vê por ai e põe o tempo em dia.



sexta-feira, abril 11, 2003

 
Da primeira impressão:

"A primeira impressão é a que fica" diz o ditado. Qual sua primeira impressão? Qual seria a sua impressão sobre si mesmo? É possível? No decorrer dos últimos anos fiquei surpresa ao descobrir que passo a idéia de ser uma má pessoa. Bom, meus amigos até que são bonzinhos comigo hoje. Hoje dizem "quando te conheci te achei arrogante, mas é só seu jeito mesmo" ou "tão séria, achava que você era brava". Minha amiga Lígia que foi minha professora de espanhol disse "eu tinha certeza que você ia me causar problemas". Pobre de mim, tão doce, tão alegre... Mas se você perguntar a minha "segunda" impressão sobre mim mesma eu diria que talvez eu seja um pouco de tudo isso ou talvez essa primeira impressão que deixamos é só aquilo que queremos mesmo; um pouco marginal, transgressora de regras, séria, impondo respeito, demonstrando confiança e credibilidade. A verdade é que depois de 25 anos ainda não decidi o que quero ser e ainda sim somos uma espécie que se julga capaz de dizer quem o outro é apenas com um olhar.



quarta-feira, abril 09, 2003

 
Dos filmes catastrofes (ou catastróficos)

Ontem assisti a um filminho chama "O Núcleo" , dêem uma olhada na sinopse:
"Por razões desconhecidas, o núcleo da Terra parou de girar e o campo eletromagnético do planeta começa a se deteriorar rapidamente. A vida em todo o globo muda dramaticamente. Tentando solucionar a crise, membros do governo enviam uma equipe de cientistas ao núcleo da Terra. A missão deles é detonar uma bomba nuclear para reativar o núcleo e salvar o mundo da destruição.". Bom, nem vou comentar o roteiro... Preciso mencionar que eles chegam ao centro da terra numa nave em forma de broca gigante? Se eu começar a falar dessas coisas vou precisar de um blog só pra comentar os furos.
Que saudades dos bons e velhos filmes catástrofes, que saudades daquele tempo que não vivi quando em dezembro de 1974 Paul Newman e Steve Macqueen dividiam cena a cena tentando safar-se de um prédio em chamas em "Inferno na Torre". Até as catástrofe em 1974 eram mais simples de serem resolvidas. O mundo anda complicado.


terça-feira, abril 08, 2003

 
Da primeira crise alcoólica

Dizem que o primeiro porre é inesquecível, já eu, com minha memória inabalável, lembro de todos! Sim, todos os 3, porque sou uma garota de família, né?
Minha mãe gosta de falar da importância dos rituais de passagem, uma coisa meio primitiva e aborígine, mas funciona. Os judeus fazem um bar-mitzva, já nós, estranhos ocidentais cristianizados, enchemos a cara para dizer que já somos maduros o suficiente.
Olhando pra atrás, oito anos (putz, to ficando velha!), eu vejo como foi importante aquele porre (não riam, mas uma cuba-libre já foi de bom tamanho). Vi as coisas de uma perspectiva realmente mais adulta sentada na calça em frente o extinto Noni-noni no Bexiga. Enquanto meu então amado Ricardo se divertia lá dentro a irmã dele segurava minha testa e eu zonzinha choramingava. Ah sim, porque eu sou daquelas bêbadas choronas.
Em Botucatu também passei da conta, agora com uma mistura básica de amarula, cuba, sex-on-the-beach e cerveja. Como eu já estava esperta, tinha sobrevivido ao ritual de passagem, depois de brigar com o segurança fui procurar um sofá para sentar e chorar e antes de me recobrar pedir desculpas a todo mundo. Será que foi de vergonha que larguei a facul 3 meses depois??? Não, lá não...
Bom, da ultima vez nem chorei, estou progredindo! Bom, seja lá como for fico feliz por em todos aqueles momentos ter alguém ao meu lado; a Amanda e o Piu, o Bagua, a Novs, a Cau e a Kota (alias, você não conta pois tava tão bêbada quanto eu), e desta ultima a Vanner que colocava pipoca na minha boca enquanto eu tentava descobrir porque estava tão difícil manter a cabeça erguida.
Putz Wilton, eu não consegui provar nada de surreal com o álcool, nenhuma visão alem de turva. Mas valeu por perceber que de repente é bom ter alguém cuidando da gente, né?


segunda-feira, abril 07, 2003

 
De ontem para hoje esse blog teve 8 acessos. Tá, eu mandei o endereço dele para um monte de gente, mas fiquei curiosa pra saber quem foi o primeiro a acessar. A primeira imagem é que vai dizer quantos vão voltar. Então tá decidido, esse vai ser o tema do blog essa semana; os primeiros.
Dizem que nunca esquecemos o primeiro beijo, o primeiro amigo, a primeira transa, o primeiro fora, o primeiro sutiã... Ficamos ansiosos com o primeiro filho, o primeiro dia de trabalho, a primeira vez na direção. Ainda lembro quando peguei a marginal do Tietê pela primeira vez, suava bicas, hoje.... bom, ainda não morro de amores por ela.
Acho que não fui a primeira de ninguém, será que estou destinada a me casar com um divorciado? Não lembro de ter sido o primeiro beijo de alguém, nem a primeira transa, nem a primeira aluna, nem mesmo primeira filha, neta ou relativo. Se fui primeiro amor de alguém também não fiquei sabendo (favor informar).
E por falar em primeiro amor... Não sei pra vocês, mas para mim é difícil definir um. Tem aquele cara do pré-primário que todo mundo falava ser seu namorado (Meu sobrinho de 3 anos me apresentou a namorada dele a uns 3 meses atrás. Perguntei dela ontem, "morreu", como?, "eu matei ela"), então esse amor é meio questionável. Depois vem aquele amor do tipo ele tem 3 anos a mais que você, já está na oitava série e você nunca falou com ele e hoje nem lembra o nome do fulano. Tempos depois você encontra sua alma gêmea, vocês combinam em tudo, são parecidos, você está amando, você... está de saco cheio daquela mesmice e se pergunta o que esta fazendo com aquela pessoa. Até que você encontra aquele alguém que te deixa bobo, babando e você gagueja cada vez que tenta falar e enquanto isso durar, você saberá que este é seu primeiro amor pois nada nunca foi igual. Talvez na verdade todos os amores sejam primeiros porque são únicos em sua forma e nenhuma forma de amor deve ser ignorada.
Vou me retirar antes que fique dramático demais.

"A vida é como topografia, Haroldo. Há picos de felicidades e sucessos... pequenos campos de chata rotina... e vales de frustrações e fracassos..."
Calvin & Harold


Blog-Links
Cerbero

Tomate Maravilha

Blog do Tar

Cinema Cuspido e Escarrado

CruSSificados

Zyhunter


Links favoritos
IMDB

Webventure

JD Salinger

Projeto Releitura




Fala comigo
Blog-mail


Pra lembrar os velhos tempos

Archives

This page is powered by Blogger. Isn't yours?